Entre avanços e promessas, Hospital Regional de Santa Maria completa quatro anos

Arianne Lima

Entre avanços e promessas, Hospital Regional de Santa Maria completa quatro anos

Com um histórico de alterações de função por mudanças de governo, forte atuação durante a pandemia de Covid-19 e acima de tudo, avanços, controversas e promessas em busca do funcionamento pleno, o Hospital Regional de Santa Maria completou quatro anos de serviço na última quarta-feira, dia 6 de julho.

Neste período, foram abertos três ambulatórios e um bloco cirúrgico, assim como leitos de internação clínicos e de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), que ganharam importante papel na assistência a pacientes infectados pela Covid-19 em Santa Maria e Região a partir de 2020. Com os avanços no combate a doença, os leitos foram revertidos para atendimento geral e atualmente, reduzidos, resultando em apenas 60 leitos, o que representa menos de um terço da capacidade total do hospital.

Atualmente, o Regional conta com 430 funcionários ativos e em maio de 2022, os atendimentos e cirurgias de média complexidade nas áreas traumato-ortopedia saíram do papel, trazendo movimento a uma lista de espera com quase 11 mil pessoas. Já o início dos atendimentos nas áreas de neurologia e de cardiologia intervencionista, que fazem parte da mesma promessa, ainda não tem data para começar.

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Idas e vindas

A trajetória do Hospital Regional de Santa Maria perpassa três gestões governamentais do Estado. Desde o anúncio em 2003, um projeto tem passado por idas e vinda em busca do funcionamento pleno.

De 2003 até 2007, o endereço que abrigaria o empreendimento mudou três vezes, sendo definido que a construção ocorreria em um terreno no Bairro Parque Pinheiro Machado, onde permanece até hoje. Com o investimento de R$ 70 milhões oriundos dos cofres públicos, o prédio começou a ser materializado apenas em 2010, sendo parada e retomada diferentes vezes.

Seis anos depois, em setembro de 2016, a obra foi concluída. Entre 2017 e 2018, o Estado deu início a uma busca por instituições que pudessem assumir a gestão do hospital, sendo que, em janeiro de 2018, o Instituto de Cardiologia, de Porto Alegre, é anunciado como novo gestor do Regional. Em 6 de julho de 2018, o Hospital Regional de Santa Maria é inaugurado com apenas um ambulatório em funcionamento.

Desde então, o hospital foi ganhando novos serviços, resultando um modelo diferenciado, como destaca o superintendente geral do Hospital Regional de Santa Maria, Rogério Pires:

–Ele tem uma característica diferente dos outros hospitais, porque não é porta aberta. Os pacientes são encaminhados pela regulação estadual e recebem um atendimento integral dentro do nível de complexidade e da especialidade que o hospital está preparado. Ele deve evoluir alguns anos ainda dentro desse modelo que nós, que estávamos envolvidos, entendemos ser um modelo moderno de assistência hospitalar que precisamos ter no Brasil.

Ambulatórios

Aberto em 2018, o primeiro ambulatório especializado do Regional é o de doenças crônicas, no qual são atendidos pacientes com diabetes e hipertensão oriundos de municípios da Região Central. Em agosto de 2019, começa a funcionar o ambulatório de Cardiologia na instituição, com a oferta de 320 consultas por mês. Segundo o diretor técnico do Hospital Regional de Santa Maria, Vinicius Menegola, as atividades não pararam durante a pandemia, especialmente os atendimentos ofertados no primeiro ambulatório:

–Na pandemia, enquanto as Unidades Básicas de Saúde e toda a assistência ao paciente doente crônico foi cessada devido ao medo que tínhamos, o Hospital Regional foi o único que se manteve aberto. Disponibilizamos mensalmente 3.600 consultas por mês. Nós seguimos prestando assistência, com todo o cuidado para ninguém se contaminar e os nossos índices de contaminação foram irrisórios – afirma.

Conforme o Instituto de Cardiologia, atualmente, dos 33 da Região Central, 30 municípios encaminham pacientes aos ambulatórios do Regional via 4ª Coordenadoria Regional de Saúde (4ª CRS). Funcionando de segunda a sexta-feira, das 7h às 19h, os dois ambulatórios atendem em média 30 pacientes por dia. E ao todo, já foram contabilizadas mais de 154 mil consultas. Além destes dois espaços, o Hospital Regional conta também com o ambulatório cirúrgico.

Número total de atendimentos do Ambulatório de Atenção Especializada em Doenças Crônicas (de 9 de julho de 2018 a 6 de julho de 2022) – 143.740 consultasNúmero total de atendimentos do Ambulatório de Cardiologia (de 13 de agosto de 2019 a 6 de julho de 2022) – 11.187 consultasHorário de atendimento dos ambulatórios – De segunda a sexta-feira, das 7h às 19hNúmero de municípios que encaminham pacientes para os ambulatórios – 30

Fonte: Instituto de Cardiologia

Leitos

De 2018 até abril de 2020, o Regional permaneceu sem leitos de internação, apesar das promessas feitas pelo Governo do Estado. Apenas em 27 de abril de 2020, com o início da pandemia no Rio Grande do Sul, um passo efetivo foi dado. Em uma visita a Santa Maria, o então governador Eduardo Leite (PSDB) e a secretária de Saúde, Arita Bergmann visitaram o Hospital Regional e anunciaram a abertura de 30 leitos clínicos e 10 de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) voltados exclusivamente ao atendimento de pacientes infectados com a Covid-19.

Na ocasião, Leite estipulou que seriam inaugurados 130 leitos até o final de 2020 e nos anos posteriores, 198 leitos (30 de UTI e 168 clínicos), que é a capacidade total do hospital. Em julho, o Estado anunciou mais 10 leitos de UTI. Os novos leitos foram possíveis em decorrência da atuação conjunta da Justiça Federal de Santa Maria e do Ministério Público do Trabalho (MPT), que fizeram a doação de R$ 216,6 mil para agilizar a abertura junto ao Regional.

Dos 10 anunciados, os cinco primeiros foram habilitados em 15 de agosto. O restante foi entregue em 31 do mesmo mês. O atraso na entrega dos últimos cinco ocorreu devido a dificuldades para aquisição de bombas de infusão, que tiveram alta durante a pandemia. O recurso de cerca de R$ 75 mil para a compra das 10 bombas de infusão que estavam faltando para os últimos cinco leitos também foram doados pelo MPT.

Neste meio tempo, o número de leitos no hospital passou por aumentos e reduções, sendo também revertidos para leitos gerais com os avanços no combate ao coronavírus e a criação de um bloco cirúrgico na instituição, em 27 de outubro de 2021. Conforme a Secretaria Estadual de Saúde, no contexto atual, o Regional conta com 60 leitos que não são mais especificamente para Covid-19. Os 20 leitos clínicos, 20 leitos cirúrgicos e 20 leitos UTI representam menos de um terço da capacidade total.

Para Menegola, a abertura de leitos durante a pandemia teve um papel muito importante no cenário gaúcho, no qual muitos municípios tiveram que montar hospitais de campanha, o que não foi o caso de Santa Maria. Questionado sobre o número de leitos e a funcionalidade do hospital, o diretor técnico é enfático:

–Houve uma reestruturação e uma reforma para a adequação e abertura desses leitos. Na pandemia, isso foi acelerado. Conforme a necessidade foi diminuindo, também foram diminuindo os números de leitos disponibilizados. E por que não estamos trabalhando a pleno ainda? Porque a abertura está sendo gradual, conforme a demanda. É isso que está acontecendo. Estamos abrindo novos serviços, como aconteceu com a cirurgia geral, CPRE, cirurgia torácica, cirurgia traumatológica, e agora, com a neurocirurgia. Com isso, já estamos pactuando a abertura de novos leitos. É questão de tempo para estarmos trabalhando a pleno.

Especialidades

Em 2022, o Hospital Regional de Santa Maria conquistou alguns feitos a serem somados na história, como a primeira captação de órgãos em março e o inicio dos primeiros procedimentos de Colangiopancreatografia Retrógada Endoscópica (CPRE) em maio. O maior deles até o momento é a oferta de consultas, exames e cirurgias de média complexidade na área de traumato-ortopedia.

Em 15 de março, a secretária Arita Bergmann anunciou a abertura de serviços nas especialidade de traumato-ortopedia e neurologia no Regional. Os prazos estipulados para os atendimentos do ambulatório de traumato-ortopedia era do final de abril. No mesmo mês, seriam ofertado o serviço de cirurgia torácica, cujo contrato prevê a realização de 10 operações por mês e toda a linha de cuidado na área. Já o serviço na área de neurologia começaria no final de maio.

Em 5 de maio, durante uma coletiva de imprensa em Santa Maria, um contrato entre o Estado e o Instituto de Cardiologia foi assinado, formalizando a oferta de 40 cirurgias e 280 consultas e exames por mês. No dia 11, data divulgada pela secretária Arita na ocasião, o ambulatório de traumato-ortopedia atuou em expediente interno para capacitar funcionários, fechar turnos e triar a lista de espera com quase 11 mil pessoas.

Na manhã do dia 16 de maio, os primeiros atendimentos da especialidade começaram e quase um mês depois, a primeira cirurgia resultante das primeiras semanas de ambulatório foi realizada. Com recursos estaduais e federais durante todo o processo, o próximo serviço a ser ofertado pelo hospital é na área de neurologia. Conforme o diretor técnico do Regional, Vinicius Menegola, os atendimentos devem começar em breve:

–Nós já temos uma previsão de início, mas essa informação quem irá dar é a secretária Arita, que irá visitar o município muito em breve. Mas, nós já temos uma programação e compactuação com o serviço de neurocirurgia. Então, logo, teremos esse serviço atendendo no Hospital Regional.

O Diário de Santa Maria entrou em contato com a secretária Arita Bergmann para tratar sobre os quatro anos do Hospital Regional. Porém, até o fechamento desta reportagem, não obteve resposta.

Veja a linha do tempo do Hospital Regional de Santa Maria com os principais fatos ocorridos nos últimos quatro anos:

2018

O Hospital Regional de Santa Maria é inaugurado em 6 de julho de 2018, somente com o ambulatório de doenças crônicasEm agosto, o então secretário estadual de Saúde, Francisco Paz, afirma que o Estado trabalha com a perspectiva de abertura de 236 leitos e que o hospital deve ter 100% de condições de pleno funcionamento dentro de 20 mesesEm outubro, secretário Francisco Paz visita o complexo e justifica o atraso na abertura do segundo ambulatório por problemas técnicos, operacionais e orçamentáriosEm novembro, Secretaria Estadual de Saúde diz que um novo prazo para a abertura do ambulatório de reabilitação será definido após a conclusão de reparos e da total instalação dos equipamentos de diagnóstico de imagem

2019

·Em 9 de fevereiro de 2019, Arita Bergmann afirma que o Estado não tem condições orçamentárias e financeiras para assumir o serviço, sendo necessário o apoio do governo federal Em 13 de fevereiro, Centro de Diagnóstico por Imagem é instalado no hospital, mas aguarda os trâmites da Vigilância Sanitária para poder entrar em funcionamentoEm 3 de maio, Governo Federal sinaliza liberação de R$ 50 milhões para equipar o complexo.Em 13 de agosto, é inaugurado o segundo ambulatório do Hospital Regional: o de cardiologia. No primeiro mês, seriam realizadas 112 consultas. Na época, o diretor administrativo do Regional, Elvis Prestes, garantiu que os atendimentos seriam feitos de segunda a quinta-feira a partir de setembro, totalizando 320 consultas por mêsNo mesmo período, os exames de imagem e diagnóstico ainda não estão sendo realizados no Hospital Regional. Apesar da instalação do centro em fevereiro de 2019, a instituição aguarda pelos trâmites da Vigilância Sanitária e uma nova inspeção para começar a operar.O Hospital Regional de Santa Maria garante, por mais um ano, um aporte de R$ 7,2 milhões para o funcionamento dos dois ambulatórios. O recurso teve a validade estipulada em 3 de setembro 2019 até 3 de setembro de 2020.Em dezembro, o Governo Federal anuncia R$ 36 milhões para o hospital, que possibilitará a aquisição de diversos aparelhos como, por exemplo, o Raio X, hemodinâmica, aparelhos respiratórios, camas hospitalares, entre outros necessários para que a unidade comece a atender a população oferecendo leitos de internação.

2020

Em março de 2020, o governo do Estado liberou mais R$ 7 milhões para realizar ajustes no prédioEm 27 de abril, Governador Eduardo Leite anuncia a abertura de 30 leitos clínicos e 10 de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), todos voltados ao atendimento de pacientes com Coronavírus, durante uma vistoria feita no localA partir de 28 de abril, a meta do governo é que até o final de 2020 sejam inaugurados 130 leitos. Nos próximos anos, o hospital deve contar, ao total, com 198 leitos (30 de UTI e 168 clínicos).Em julho, o Estado anunciou mais 10 leitos de UTI. A garantia desses novos leitos de UTI foi possível em decorrência da atuação conjunta da Justiça Federal de Santa Maria e do Ministério Público do Trabalho (MPT), que fizeram a doação de R$ 216,6 mil para agilizar a abertura junto ao Hospital RegionalDos 10 anunciados, os cinco primeiros foram habilitados em 15 de agosto. O restante foi entregue em 31 do mesmo mês. O atraso na entrega dos últimos cinco ocorreu devido a dificuldades para aquisição de bombas de infusão, que tiveram alta durante a pandemia. O recurso para a compra das 10 bombas de infusão que estavam faltando para os últimos cinco leitos também foram doados pelo MPT. O investimento foi de cerca de R$ 75 mil

2021

Em setembro, o governo estadual garante recurso de R$ 8,82 milhões para a instalação da unidade de cardiologia de alta complexidade e Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), com implantação de serviços de hemodinâmica, UTI cardiológica e vascular e UTI geral. Os recursos fazem parte do programa Avançar SaúdeEm 27 de outubro de 2021, o Governador Eduardo Leite e a secretária Arita Bergmann anunciam a inauguração de um bloco cirúrgico de média complexidade para atendimento não-Covid. Com capacidade inicial para 55 cirurgias ao mês, o bloco com seis salas cirúrgicas equipadas, sendo utilizadas apenas duas para cirurgias gerais, torácicas e vasculares, por exemploNa mesma oportunidade, 20 leitos clínicos são transformados em leitos não-Covid para apoiar funcionamento do bloco cirúrgico e mais 10 são criados para recuperação pós-operatóriaLeite garante que o funcionamento pleno do hospital ficaria para o fim de 2022. Já a secretária de Saúde Arita Bergmann prometeu a instalação de atendimento de alta complexidade nas áreas de neurologia, traumatologia e cardiologia

2022

Em 15 de março de 2022, a Secretária Arita Bergmann anuncia a abertura de novos serviços no Hospital Regional. Tratam-se de cirurgias, consultas e exames nas áreas de traumato-ortopedia e neurologia. Os prazos estipulados para os atendimentos do ambulatório de traumato-ortopedia era do final de abril. No mesmo mês, seriam ofertado o serviço de cirurgia torácica, cujo contrato prevê a realização de 10 operações por mês e toda a linha de cuidado na área. Já o serviço na área de neurologia, começaria no final de maioNa mesma oportunidade, é informado que 10 leitos de UTI Covid-19 do Regional serão convertidos em UTI Geral.Em 25 de março, o Hospital Regional de Santa Maria realiza a primeira captação de órgãosEm 5 de maio, um contrato entre o Estado e o Instituto de Cardiologia – Fundação Universitária de Cardiologia, que gestiona o hospital, foi assinado, formalizando a oferta de 40 cirurgias e 280 consultas e exames por mês na especialidade de traumato-ortopedia. A data de início dos atendimentos foi marcada para o dia 11Em 11 de maio, os serviços de traumato-ortopedia no Hospital Regional de Santa Maria começam com triagem, mas sem atendimentos. O início dos atendimentos ao público foi confirmado para o dia 16Em 27 de maio, o Regional realiza o primeiro procedimento de Colangiopancreatografia Retrógada Endoscópica (CPRE). O contrato prevê a realização de 30 exames do tipo por mês, totalizando o investimento de R$ 900 milEm 9 de junho, o Hospital Regional de Santa Maria realiza a primeira cirurgia na especialidade de traumato-ortopedia.

por Arianne Lima – [email protected]

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